17 abril 2008

Open source e sua influência no desenvolvimento de software – parte 3

No primeiro post desta série falamos sobre o que é open source no contexto da indústria de software. A segunda parte abordou reflexões acerca dos aspectos da engenharia de software tradicional em comparação com algumas práticas open source. Finalmente, nesta terceira e última parte desta série falaremos sobre a influência open source na economia e as conclusões gerais.

Open Source e seus efeitos na economia

Vemos hoje exemplos de sucesso do open source o sistema operacional Linux e o servidor web Apache [Perens 2005], [Garzarelli 2002], com uma forte adesão de novos usuários. Além disso, estudos apontam crescimento de 37% a 45% em setores relacionados com Linux, com movimentação estimada de U$ 35 bilhões em 2008. [Perens 2005]

Por que grandes empresas como IBM estão participando desses projetos? Uma justificativa plausível é que aborda o impacto do open source na cadeia de valor do software [Taurion 2004]. Ainda segundo o autor, a cadeia de valor é a série de atividades relacionadas e desenvolvidas por agentes produtivos para satisfazer às necessidades do mercado (relações com fornecedores, ciclos de produção, vendas e distribuição dos produtos). Os aspectos dessa cadeia são bastante voltados às formas como os negócios se dão. A IBM percebeu essa mudança na cadeia de valor e está direcionando o seu modelo de negócio na área de desenvolvimento.

Outro fator importante é que as empresas precisam construir novos modelos de negócio para continuar lucrando nesses novos mercados, pois veremos mais adiante que os custos para os usuários estão bem acessíveis, isso modifica o sistema de como explorar o mercado de TI. Alguns vêem open source como uma estratégia uniforme para desenvolvimento de software e um estilo de vida próprio, mas alguns também vêem como um novo modelo de negócio. [Riehle 2007]

Hoje a função econômica do software em um negócio é estrategicamente muito importante conforme abordam a maioria dos trabalhos consultados [Perens 2005], [Riehle 2007], [Taurion 2004]. Nem todas as empresas estão no negócio de manufatura de software. No entanto, sem o software, muitas empresas seriam menos eficientes ou seriam impossíveis de operarem. Como exemplos práticos considerem o planejamento financeiro antes das planilhas de computador, a correspondência antes do e-mail, etc.

Hoje necessitamos de software para fazer o negócio. Qualquer negócio com mais de 50 funcionários é provável empregar serviços de programadores. Os software melhoram a qualidade do produto. O modelo open source criou uma nova forma de relacionamento econômico [Riehle 2007], [Perens 2005], [Taurion 2004]. Uma nova forma de relacionamento peer-to-peer com os clientes do software da empresa. Isso permitiu que participantes do processo se envolvessem diretamente na criação do software open source e assimtornando-se colaboradores.

Havia também novos relacionamentos nas vendas do software em projetos opensource, que competiam em outros setores, mas contribuem em projetos de interesses em comum. Mudanças também no relacionamento do cliente-vendedor: o cliente poderia agora participar com o vendedor no desenvolvimento do software. Assim, muitos vendedores poderiam alcançar agora o mesmo código fonte, e suportar assim o produto, havia menos restrições e menos exclusividades neste relacionamento [Perens 2005].

Especialistas sugerem que as empresas podem usar software open source para fazer crescer suas comunidades de usuários e construir um ecossistema sobre seus produtos e serviços [Riehle 2007]. As instituições financeiras começam a observar o open source como prováveis respostas para necessidades ainda não esclarecidas aos fenômenos presentes, tais como:[Perens 2005] o projeto de passatempo de um estudante – resultou o Linux,influenciando as TI das empresas; A IBM, com sua postura tradicional e conservadora deixando de apostar em seu sistema (IBM AIX) para investir dinheiro em projetos open source aliando-se com programadores, cujo líder não tem nenhum poder, mas conquistou respeito de outros; a Microsoft enfrenta seu primeiro concorrente sério em uma década: os programadores open source que vão afastando seu trabalho. Estes eventos parecem absurdos: certamente não cabem no paradigma econômico tradicional da produção de tecnologia. Um fenômeno econômico novo está operando-se, e para explicá-lo segundo o autor, é preciso olhar mais profundamente na economia da produção do software, os seus impactos.

Por que o custo e preço do software open source é muito mais barato do que software fechado?

Para responder esta pergunta é preciso analisar o modelo fechado, seu custo e preço de venda [Riehle 2007]. No modelo de negócio do software fechado o custo do investimento se dá nas primeiras vendas. O lucro começa a ser adquirido com as vendas sucessivas que serão comercializadas. Custos adicionais de vendas e melhorias do produto são relativamente baixos. Os softwares são geralmente instalados através de CDs ou downloads do produto, e incorporam uma licença de usuário, que garante suporte, etc.

O advento do software open source tem reduzido os custos dos aplicativos para os usuários. Isso está mudando o cenário econômico no ecossistema das negociações do software. [Riehle 2007] Empresas não querem pagar por licenças sem ter certeza que a solução contratada atende suas expectativas. Pode-se observar que existe uma queda no número de clientes dispostos a comprarem esses recursos. Quanto mais baixo for o preço dos produtos mais há interesses na compra destes. Além disso, essas mudanças se refletem principalmente em como algumas empresas estão ofertando seus produtos e serviços para os usuários, através da Integração de Sistemas (IS) [Riehle 2007]. Para haver crescimento desse negócio a empresa que provê uma integração de sistemas precisa ao menos cobrir seus custos. Os preços tendem a ficar mais baixos e como conseqüência mais vendas são realizadas, as margens de lucro se estabilizam se as vendas forem contínuas.

Os sistemas integrados estão sendo vistos como uma perspectiva para manter os lucros usando open source. Os sistemas que provem integração de soluções fazem parte de um conjunto de tecnologias de hardware, software e serviços, que são oferecidos de forma transparente e comercializados como produtos [Rieble 2007].

Observam-se mudanças na forma de distribuir softwares, mudanças na economia e na cadeia de valor do software. No entanto, se for oferecido somente serviços como componentes e API e infra-estrutura, é necessário fazer soluções de software para usar aqueles serviços no dia a dia. Logo, os lucros podem ser afetados se não houver clientes interessados neste negócio. O modelo open source pode contribuir neste sentido. Empresas que provem integração de soluções podem alavancar seus produtos incentivando a comunidade open source a usarem seus serviços, reduzindo o custo das suas soluções. Isso pode incentivar empreendedores e empresas a pagarem o uso dos serviços. A cadeia de valor do software open source está bastante consolidada e estável para os clientes e usuários.[ Riehle 2007] Não é muito fácil repassar o custo de produção hoje em dia para os clientes. Há algumas razões: os clientes tendem a incorporar o produto como um todo, melhor do que em componentes individuais. Isso exige fornecer soluções mais complexas que demandam custos mais altos para as empresas. Há também uma competição muito grande no mercado, no qual é preciso investir constantemente em inovação, não é fácil ficar a frente desses novos mercados. Mas se tratando de sistemas de integrações de soluções open source pode-se manter as margens de lucro.

Nas comunidades de software open source não há barreiras de mercado existentes para efetuar vendas de serviços, manutenção e suporte, desde que tenha uma licença que permita explorar a tecnologia [Riehle 2007]. O mercado é bastante competitivo, a fixação de preço se dá pelo pagamento dos custos. Se os lucros são altos, novas companhias incorporarão esse mercado, se os lucros são baixos as empresas deixarão o mercado. Quanto mais maduro o produto mais baixo será o preço total. Os custos variam de empresa para empresa, em geral, os custos são mais altos nas primeiras unidades porque se espera vender um serviço melhor.

Conclusão
Neste artigo abordamos sobre open source e algumas de suas facetas nas áreas da engenharia de software, nos seus processos de desenvolvimento e alguns reflexos na economia da indústria do software. Grandes empresas, tal como a IBM, está sinalizando que open source não é somente discurso filosófico ou ideológico, mas como uma alternativa viável de exploração de mão de obra qualificada e serviços com custos reduzidos. Nesta conjuntura um novo modelo de negócio desenha uma forma de envolver clientes e usuários em torno do produto, que agora passa a ser construído de forma mais participativa.

[Kubota 2006] demonstra essas tendências aqui no Brasil ao atestar que os modelos de open source terão um grande impacto econômico não apenas na indústria de software, mas na sociedade como um todo. Afirma ainda: “os países e empresas que adotarem tecnologias de fonte aberta terão grande vantagem competitiva, e a sociedade em geral poderá se beneficiar de uma adoção precoce. As tecnologias de fonte aberta representam uma mudança no modelo de comercialização tradicional, e sua maior fonte de receita é representada pelas licenças. No novo modelo, o valor das licenças é nulo ou baixo e as receitas advêm principalmente de serviços, o que pode representar oportunidade para as empresas brasileiras de software”.


Referências


  • Perens, B. (2005) The Emerging Economic Paradigm of Open Source, Senior Research Scientist, Open Source, Cyber Security Policy Research Institute, George Washington University.

  • Garzarelli, G., (2002), Open Source Software and the Economics of Organization, Università degli Studi di Roma, 'La Sapienza' Dipartimento di Teoria Economica e Metodi Quantitativi per le Scelte Politiche Piazzale Aldo Moro,Rome, Italy

  • Taurion, C., (2004) "Software Livre: potencialidades e modelos de negócio", RJ: Editora Brasport.

  • Riehle, D. (2007) The Economic Motivation of Open Source Software: Stakeholder Perspectives, Publish ed by the IEEE Computer Society April

    Kubota, L.C., (2006), DESAFIOS PARA A INDÚSTRIA DE SOFTWARE, Brasília,

  • IPEA, TEXTO PARA DISCUSSÃO No 1150,

  • http://www.ipea.gov.br/082/08201008.jsp?ttCD_CHAVE=2480

Créditos desse estudo também se devem aos meus colegas:
Ana Carina M. Almeida, Cleyton C. da Trindade e Marcio M. de Souza

12 abril 2008

Computação Móvel e Sem Fio

Nesta semana apresentamos um seminário sobre computação móvel e sem fio, na disciplina de sistemas distribuídos do mestrado (CIn/UFPE, 2008.1). Foi bastante interessante, trabalhoso e divertido expor o que pesquisamos, onde abordamos temas atuais, desde o estado da arte em computação móvel até visões de futuro. Segue a nossa apresentação.